Physis

Por vezes são os temas que nos escolhem a nós e não o contrário. A nossa cultura visual, o nosso gosto estético e as leituras que fazemos levam-nos a procurar algo. Revendo imagens mais antigas acabei por encontrar as raízes do presente projeto. São traços subtis, mas estão lá. A consciência dessa procura acabou por chegar mais tarde. E como tudo o resto surgiu naturalmente. Em março captei a primeira imagem que realmente impulsionou a idealização de um trabalho nos seguintes moldes. A partir daí sim, foi uma longa jornada.

Como criar algo novo partindo do que nos é elementar? No surrealismo utilizava-se a justaposição de elementos distintos de forma a chocar ou revelar algo. Ao introduzir-se uma figura humana na paisagem, esta transforma-se, deixa de ser apenas uma simples paisagem, passa a ser algo mais. Citando Arno Rafael Minkkinen (2015) “uma imagem contendo apenas a forma humana e a natureza no seu estado primitivo poderia concebivelmente ter sido criada há 500 anos, se a fotografia já tivesse sido inventada”.

Desse processo resultaram mais de mil imagens que deram lugar a um conjunto de apenas cinco. Na edição tornou-se evidente  o corpo e a alma do trabalho. O oceano. As dunas. A montanha. A planície. A floresta.

Conceptualmente define-se nas noções de Tempo e Espaço. Um tempo flutuante, que se move “tanto numa cronologia linear, através dos momentos capturados em cada imagem”, como na horizontal pelas várias imagens “até a série como um todo poder ser lida como um filme no qual os eventos se registam simultaneamente” (WITTMANN, 2009). É dessa forma que sobressai “o desaparecimento permanente do tempo” na ausência da “ligação concreta entre espaço e tempo”. Espacialmente remete para o espaço primordial, onde o Homem tem fixas as suas raízes, a Natureza.

Physis. Do grego antigo, Natureza. O seu significado não se limita a uma palavra. Sumariza uma pergunta: “De onde vêm as coisas?”. Heidegger (2004) diz-nos que “o Ocidente e a Europa são na marcha mais íntima da sua história originariamente filosóficos”, ao nos interrogarmos pelo ser das coisas estamos inevitavelmente no campo do questionar grego. Somos gregos na nossa essência. Se a primeira grande questão, levantada pelos filósofos foi sobre a Natureza, estamos perante a origem do pensamento do homem. A Physis é dinâmica, implica movimento.

Estas fotografias são uma viagem visual. Uma viagem que nos remete para o princípio. Princípio esse no qual predomina a relação entre Homem e Natureza. O Homem que se deixa espantar com o espetáculo do mundo. O Homem que se questiona pela primeira vez pelo ser das coisas. Quase como um mergulho no passado. Um regresso às Origens.

Trabalho Final de Curso realizado no âmbito do Curso Profissional de Fotografia do Instituto Português de Fotografia de Lisboa

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